quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Qual a diferença da escravidão transatlântica para as demais?



Sempre que se fala, atualmente, em políticas compensatórias para minorar os efeitos ainda hoje sentidos da escravidão negra no Brasil, aparecem pessoas justificando a negação destas políticas argumentando que em outros momentos da história e entre os próprios nativos africanos existiam formas de escravidão.

Esse argumento, muitas vezes acompanhado de má-fé, apresenta dois vícios notórios.

Primeiro, que não devemos justificar um erro com outro. Se alguém cometeu um ato reprovável, não estão todos os demais liberados para cometê-los também. Além do que, reparar tais efeitos é essencial para que possamos alavancar a economia e o bem estar nacional.

Segundo, que o tráfico negreiro para utilização de mão-de-obra escrava nas Américas, notadamente a portuguesa, apresentou especificidades que imprimiram um caráter único ao evento. A quantidade de população deslocada da África para a América foi algo sem precedente na história da humanidade. Acrescenta-se, a isto, uma ideologia pragada pela igreja de que o negro não tinha alma; aproximando o escravo dos outros animais integrantes das fazendas na mentalidade daquela elite agrária. Havia, também, teorias raciais que classificavam o negro como uma raça inferior; acarretando a construção de verdadeiros zoológicos humanos, na Europa, onde famílias africanas ficavam em exposição.

O jornalista Laurentino Gomes, escritor dos livros 1808 e 1822, acabou de lançar o primeiro tomo da obra "escravidão". Em entrevista concedida ao portal uol, disse algumas palavras sobre o tema.

"Seres humanos escravizando outros seres humanos não é algo que nasceu ali pelo século XV nem teve a África como palco de estreia de tal atrocidade. A escravidão é um fenômeno tão antigo quanto a própria história da humanidade, registra Laurentino. Para o autor, contudo, a escravidão nas Américas se distingue de outras por dois fatores: o regime de trabalho (os escravizados eram utilizados em condição equivalente à das máquinas agrícolas industriais de hoje) e o nascimento da ideologia racista, que passou a associar a cor da pele à condição de escravo... O negro seria naturalmente selvagem, bárbaro, preguiçoso, idólatra, de inteligência curta, canibal, promíscuo, só podendo ascender à plena humanidade pelo aprendizado da servidão, explica o africanista brasileiro Alberto da Costa e Silva. Sua vocação natural seria, portanto, o cativeiro, onde viveria sob tutela dos brancos. Duro notar que tal ideologia segue, de alguma forma, em vigor na cabeça de muita gente tosca por aí."

Link para a matéria completa com Laurentino Gomes:
https://paginacinco.blogosfera.uol.com.br/2019/11/19/escravidao-e-assunto-esgotado-livro-de-laurentino-gomes-comprova-que-nao/?fbclid=IwAR1NgPyxpnFY50putl_pgZkxKCHOWZtMisUyDM3wpH4W0PUoTo3Bdjmg1w4

Vídeo com o historiador africanista Alberto da Costa e Silva:
https://www.youtube.com/watch?v=Dn_2RIo4QJc

Vídeo "escravidão nas Américas" com Rafael de Bivar Marquese:
https://www.youtube.com/watch?v=IWqDwUm-k1A

Escravidão na antiguidade: Grécia e Roma:
https://www.youtube.com/watch?v=u9nRYQc6ynM

África: passado e presente  (Alberto da Costa e Silva)
https://www.youtube.com/watch?v=gJVnA8Va1is

O Brasil, a África e o Atlântico no século XIX. (Alberto da Costa e Silva)
http://www.scielo.br/pdf/ea/v8n21/03.pdf

O fenômeno da escravidão enquanto privação de direitos humanos. (Roberto Minadeo)
https://www.researchgate.net/publication/281839357_O_FENOMENO_DA_ESCRAVIDAO_ENQUANTO_PRIVACAO_DE_DIREITOS_HUMANOS_Breve_revisao_historica_e_a_dura_realidade_atual






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